É um restaurante simples, "a quilo", de comida boa e tamanho médio. Dois andares. O charme é o segundo andar, e o que me chamou a atenção foi a possibilidade de me esconder, num dos seus cantinhos, e ler meu livro em paz.
Como sou tradicionalista tenho comido lá todos os dias, e os garçons acabaram me conhecendo. Há dois que sempre me atendem: uma moça baixinha e um rapaz magro, alto. Depois de forrar a barriga eu sempre peço um café pra dar um boost na minha tarde, pra ficar ligado.
O procedimento é: peço o café, eles trazem, perguntam se é açúcar ou adoçante e entregam. Na mesma tacada trazem um papelzinho com o preço e grampeiam no que você já tem, com o peso do prato. Sempre entregam dois envelopes de adoçante pra mim.
Detalhes: no pratinho debaixo da xícara sempre vêm dois biscoitinhos. Como estou de dieta sou obrigado a declinar, e o triste é que os biscoitinhos ficam lá. Com o tempo, passei a pedir "sem biscoito". Alguma vezes eu esqueço dessa ressalva, mas comecei a observar que o meu agora vem sem biscoito, enquanto que o da pessoa ao lado vem completo.
Num desses dias só lembrei quando vi a moça terminando de subir a escada, já com o café - Esqueci de pedir sem biscoito... - disse.
- Não tem problema, eu já trouxe sem - foi a resposta. Além disso, ela deixou UM envelope de adoçante.
Eu tenho almoçado tarde, lá pelas 13h15m. Quando chego, existem poucas pessoas no segundo piso e normalmente sou o último a sair de lá. Nessa hora, descendo a escada já existe uma corrente, impedindo novos clientes de subirem.
Hoje cheguei um pouco mais tarde que o habitual. Mal peguei o prato o rapaz que sempre me atende me abordou:
- Você vai ficar aqui ou lá em cima?
- Lá em cima, se for possível.
- Então me avisa quando for subir, que eu abro para você.
- Olhei de longe e vi que a corrente já estava passada - meu esconderijo estava fechado.
Na hora de pesar o prato lá estava ele, do lado da subida da escada, pronto para abrir a tal corrente. Infelizmente o chamaram lá na cozinha e ele saiu dali. Eu mesmo pedi para subir, a outra pessoa. Subi e prossegui com meu ritual.
No meio do almoço ele apareceu e eu disse que conseguira subir sozinho. Ele acenou com um gesto de "tudo bem" e veio retirar alguns pratos da mesa ao lado.
- A dona não reclama de eu ficar aqui em cima, sozinho (os dois aparelhos de ar condicionado ficariam ligados por causa de mim)?
- Nada, não esquenta, você é cliente.
Conclusões:
a) A menina já sabia que eu queria sem biscoitos.
b) A menina já sabia que eu usava só um sachê de adoçante.
c) Você há de convir que a frase dita pelo garçom é difícil de ser ouvida hoje em dia. Além disso, ele não só me prometeu ajuda para subir como estava lá para cumprir, no momento em que eu pesava o prato. Não foi possível, mas isso não tem importância alguma no final das contas.
Agora me diga, se isso é possível num restaurate simples em Botafogo, por que é tão difícil conseguir em outros lugares, maiores e com mais infra-estrutura?
Ps.: na entrada, a direita, há uma mesinha e uma pequena estante. Lá você vai encontrar uma porção de livros que podem ser lidos de graça enquanto você toma um cafezinho. Coincidência?
Paprika Doce - Livro na Bandeja!
Paprika Doce
Rua Dezenove de Fevereiro, 147
Botafogo, Rio de Janeiro - RJ
2 comentários:
Excelente! Adorei o post e a iniciativa de um lugar para elogiar. Quero conhecer o Paprika Doce.
Eu conheço este restaurante e concordo com tudo que você disse. A cortesia já virou um hábito sempre reafirmado pelos seus garçons e atendentes. Parabéns pela sua iniciativa de elogiar o que há de maravilhoso na nossa cidade.
Postar um comentário